Neste Natal, gostaria de oferecer a todos quantos passam por
aqui mais uma história bordada nas recordações que me sobram do Avô. Uma
história de Natal.
Foram as suas mãos que deram vida aos nossos sonhos de criança.
Foi a sua criatividade e imaginação que transformaram pedaços de coisas em
coisas com vida, muita vida.
Numa manhã de um dia de Outubro fomos com o Avô à cidade -
Leiria. Depois de sairmos do autocarro seguimos a pé, atravessando parte
da cidade. Passámos pelo Jardim Luís de Camões e a seguir pelo
Largo da Fonte Luminosa. Havia movimento nas ruas. Parecia dia de festa. O Avô
seguia de olhar atento, explicando-nos algumas coisas que não conhecíamos.
- Avô, Avô espera aí! Deixa-nos ver aqueles rapazes a andarem
naquelas tábuas - Skate. Deve ser maravilhoso poder andar naquilo!
Depois o mais velho sugeriu:
- Podias fazer-nos um coisa daquelas?
Se calhar eu podia ajudar-te e depois brincávamos todos lá na
nossa eira!
O Avô olhou-os com surpresa, mas ao mesmo tempo, foi
fotografando com o seu olhar todos os pormenores daquela geringonça.
Fez-se silêncio, mas todos os olhares se fixavam na agilidade
daqueles meninos ali naquelas corridas.
- "Que baril meu !" - "bué da fixe !"
Disseram eles, despertando de um sonho.
Continuámos a subir em direcção à Câmara. Era para lá que o Avô
ia. Ministério da Fazenda Pública, para pagar contribuições e ainda o
Serviço Braçal. Não pescámos nada desta linguagem. A nossa cabeça ficou
naquelas coisas que vimos antes.
Explicou-nos que tinham de pagar ao Estado um imposto pelos
terrenos que cultivavam e ainda tinham de pagar por trabalharem essas terras
com a força dos seus braços - Serviço Braçal.
Depois de resolvido este assunto descemos por outro caminho -
Rua Direita. Era necessário passar pelo Grémio da Lavoura. Hoje, Biblioteca
Municipal. O Grémio agora é só das letras.
O tempo foi passando. O Avô não queria perder a camioneta da uma
hora da tarde para o regresso a casa, mas ainda assim, entrou na padaria perto
da Sé, no canto da rua Mouzinho de Albuquerque, e comprou um pão de quilo.
Era um pão grande e mais uma fatia de outro pão para completar o
peso. Depois de pagar, tirou do bolso uma navalha e cortou mais alguns pedaços
iguais ao "contrapeso" para cada um de nós.
Chegámos ao nosso destino. O Avô perguntou qual era a
camioneta e lá nos sentámos todos juntos. O Revisor haveria de passar durante a
viagem para “cortar os bilhetes”.
Naquela semana não deixámos de lhe pedir que nos arranjasse uma
coisa igual à que vimos na cidade.
- Vê lá se arranjas tempo. Não te esqueças de nós!
O Avô guardou segredo, mas foi fazendo a nossa prenda de Natal
sem a mostrar. Ele sabia inventar e iria deixar-nos muito felizes com um Skate
feito por ele.
Uma tábua de cerca de um metro por 20 cm de largura.
As rodas foram as de uns patins que estavam no lixo.
Dia de Natal quando voltámos da Missa o Avô chamou-nos.
- Venham cá, vamos até à eira, preciso que me ajudem a carregar
uma ração de feno para as nossas vaquinhas!
Chegados lá levantou umas sacas que escondiam o seu trabalho.
Era a nossa prenda de Natal.
- Aqui está o vosso brinquedo!
Foi o melhor que eu consegui fazer! Agora quero ver se ele
funciona . Começamos pelo mais velho e depois vão os outros a seguir.
A nossa alegria quase nem nos deixava dizer obrigado. O skate
rodou toda a manhã e não houve frio que nos impedisse de andar.
Os dias sucediam-se agora com mais um brinquedo que o Avô
construiu e nos ofereceu.
Depois do almoço se nos deixarem voltaremos !
Novas corridas, novas viagens!
Este foi o melhor presente de Natal.
Dezembro/2015
Luiscoelho
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