(foto google)
Era muito cedo quando acordaram os filhos.
Os pais, já se tinham levantado há bastante tempo. Antes de saírem de casa deveriam deixar os animais tratados e acomodados. Só voltariam na tarde do dia seguinte.
Ele deu a volta pelos currais reforçando a ração.
A mulher, em casa, ia arrumando a merenda num cesto, condensa. O farnel foi preparado na véspera.
Conferiu tudo à medida que ia arrumando dentro da condensa. O mais importante era mesmo a comida. Iriam comer com as mãos, sem facas, pratos ou garfos.
Chegada a hora da bucha, procuravam uma sombra. Depois sentavam-se no chão ao redor da merenda e seguravam nas mãos um pedaço de pão com o conduto ou, numa mão a carne e na outra o pão.
Não havia fruta, mas nunca faltava água e um pouco de vinho.
Desta vez arranjaram o galo grande de casta. Era um grande galo de pescoço pelado. A cauda de penas castanhas e azuis dava-lhe ares de imperador. Era muito bonito.
Não deixava que alguém se aproximasse das suas galinhas. Ele era o maior. Bicava o cão, os gatos e até as pessoas. A dona, que o conhecia muito bem, quando lhes ia dar um pouco de milho ou de verdura tinha de levar um pau.
- Tu tem juizo! Não tentes morder-me! Olha o pau! Um destes dias acabo contigo! Dizia-lhe com um ar ameaçador.
Naquele dia cumpriu a ameaça.
Quando, de madrugada, lhe dava o milho, o galo fez carreira para ela, mas nesse momento ela mandou-lhe uma tal cacetada que o deixou KO.
- Tu não estavas destinado para o nosso farnel, mas já está, já está! Acabaram-se com as tuas bicadas. Grande estafermo!
Depois de arranjado e cortado em pequenos pedaços meteu tudo num tacho de barro e deixou-o refogar.
Ficou triste por ter matado o galo grande, mas ao mesmo tempo ficou contente pois era um bom farnel para os quatro. Deixou em casa as patas, a cabeça e outras miudezas para no dia seguinte. Depois, quando chegassem a casa, iria fazer um arroz malandro naquele molho do guisado.
Temos de nos despachar meninos. É longe e depois o calor começa a apertar!
São cerca de 30 quilómetros de distância de casa até ao Santuário. Era a primeira vez que levavam os filhos. A menina devia ter onze anos e o irmão ainda não tinha feito os nove de idade.
Foi no ano de 1957, em Julho.
A mana prometeu:
- Minha Nossa Senhora, se o mano passar no exame da terceira classe vamos a Fátima rezar e agradecer.
Os pais, já se tinham levantado há bastante tempo. Antes de saírem de casa deveriam deixar os animais tratados e acomodados. Só voltariam na tarde do dia seguinte.
Ele deu a volta pelos currais reforçando a ração.
A mulher, em casa, ia arrumando a merenda num cesto, condensa. O farnel foi preparado na véspera.
Conferiu tudo à medida que ia arrumando dentro da condensa. O mais importante era mesmo a comida. Iriam comer com as mãos, sem facas, pratos ou garfos.
Chegada a hora da bucha, procuravam uma sombra. Depois sentavam-se no chão ao redor da merenda e seguravam nas mãos um pedaço de pão com o conduto ou, numa mão a carne e na outra o pão.
Não havia fruta, mas nunca faltava água e um pouco de vinho.
Desta vez arranjaram o galo grande de casta. Era um grande galo de pescoço pelado. A cauda de penas castanhas e azuis dava-lhe ares de imperador. Era muito bonito.
Não deixava que alguém se aproximasse das suas galinhas. Ele era o maior. Bicava o cão, os gatos e até as pessoas. A dona, que o conhecia muito bem, quando lhes ia dar um pouco de milho ou de verdura tinha de levar um pau.
- Tu tem juizo! Não tentes morder-me! Olha o pau! Um destes dias acabo contigo! Dizia-lhe com um ar ameaçador.
Naquele dia cumpriu a ameaça.
Quando, de madrugada, lhe dava o milho, o galo fez carreira para ela, mas nesse momento ela mandou-lhe uma tal cacetada que o deixou KO.
- Tu não estavas destinado para o nosso farnel, mas já está, já está! Acabaram-se com as tuas bicadas. Grande estafermo!
Depois de arranjado e cortado em pequenos pedaços meteu tudo num tacho de barro e deixou-o refogar.
Ficou triste por ter matado o galo grande, mas ao mesmo tempo ficou contente pois era um bom farnel para os quatro. Deixou em casa as patas, a cabeça e outras miudezas para no dia seguinte. Depois, quando chegassem a casa, iria fazer um arroz malandro naquele molho do guisado.
Temos de nos despachar meninos. É longe e depois o calor começa a apertar!
São cerca de 30 quilómetros de distância de casa até ao Santuário. Era a primeira vez que levavam os filhos. A menina devia ter onze anos e o irmão ainda não tinha feito os nove de idade.
Foi no ano de 1957, em Julho.
A mana prometeu:
- Minha Nossa Senhora, se o mano passar no exame da terceira classe vamos a Fátima rezar e agradecer.
Depois disse aos pais da sua promessa.
Ficaram muito admirados pelo carinho com o irmão, mas também lhe disseram que não deveria prometer pelos outros e que deveria consultar primeiro os pais.
Ficaram muito admirados pelo carinho com o irmão, mas também lhe disseram que não deveria prometer pelos outros e que deveria consultar primeiro os pais.
Quando fores grande decidirás por ti, mas agora ainda és muito nova.
Marcaram a data para um dia de peregrinação. Assim iriam em grupo com outras pessoas.
- Estão prontos? Disse o pai. Então vamos embora.
No céu havia muitas estrelas e a manhã senti-se fria.
A Mãe carregou o cesto da merenda à cabeça e o pai levava dois cobertores enrolados e presos ás costas como se fosse uma mochila.
Ora então vamos lá com Deus, disse a mãe que se benzeu e começou uma oração.
Em fila e sem saber das distâncias a percorrer os meninos seguiam satisfeitos, até pensavam que iam para uma festa.
- Estão prontos? Disse o pai. Então vamos embora.
No céu havia muitas estrelas e a manhã senti-se fria.
A Mãe carregou o cesto da merenda à cabeça e o pai levava dois cobertores enrolados e presos ás costas como se fosse uma mochila.
Ora então vamos lá com Deus, disse a mãe que se benzeu e começou uma oração.
Em fila e sem saber das distâncias a percorrer os meninos seguiam satisfeitos, até pensavam que iam para uma festa.
Caminharam por muito tempo até chegarem à cidade de Leiria. O Sol ia muito alto e dava sinais de um dia quente.
No sopé da encosta da Senhora da Encarnação, mesmo junto às ruínas da antiga praça de touros, sentaram-se à sombra de uma oliveira. Descansaram as pernas e comeram alguma coisa. A mãe dizia:
- Temos de aliviar o cesto. Isto pesa. Agora já vai mais leve.
- Vamos embora que a viajem é grande. Disse o pai.
Caminhavam acompanhando outros peregrinos que faziam aquele percurso. Alguns quilómetros mais adiante começaram as ladeiras da encosta da Serra. As pernas cansadas doíam.
- Ainda falta muito? Perguntou o rapazito...
- Estamos a chegar ao Soutocico. Deve ser metade do percurso, respondeu-lhe o pai.
- As minhas pernas doem tanto, reclamava o miúdo.
As subidas eram cada vez mais duras, o cansaço tomava-lhe as forças.
- Pois, mas temos de continuar. Agora não temos escolha.
Seguia no grupo uma família conhecida que levava um burro carregado e uma menina montada.
O pai na sua imaginação, disse-lhe:
- Agarra-te à albarda do burro. Ele puxa-te!
Entre queixas e muitas lamurias lá foram subindo a serra e descobrindo nomes de localidades diferentes. Curvachia, Arrabal, Freichial, Lagoa, Chainça, Santa Catarina da Serra.
Já perto do Santuário a mãe disse-lhes:
- Já se vê a torre da Basílica. Estamos perto.
Os olhos dos garotos abriram-se ainda mais de tanto cansaço.
Chegaram ao Santuário bem depois da meia tarde.
Era uma praça enorme, encimada com uma igreja muito grande e diferente de todas as que conheciam.
No centro havia a Capelinha das Aparições. Era uma construção pobre. Um simples telheiro onde se amontoavam muitas muletas e também coisas de cera que os peregrinos ali iam deixando. Foram estas imagens que sempre guardou. Os peregrinos ali à volta iam rezando e cantando e outras vezes estavam apenas em silêncio.
Procuraram um canto na escadaria da Basílica, de modo a protegerem-se do frio do norte durante a noite e também de onde podiam ver todas as cerimónias.
Estenderam os cobertores e os meninos deitaram-se.
O som dos cânticos e do órgão não eram maiores que o sono que os adormeceu.
O pior foi quando uns senhores que traziam umas correias por cima dos casacos os mandaram sair dali.
- Não podem pernoitar aqui. Têm de sair já. Vai começar a procissão das velas e ninguém pode estar nas escadarias da Basílica.
O pai pegou na trouxa e a mãe no farnel. Não sei onde passaram a noite, mas sei que a cama foi no chão e o agasalho foram os cobertores.
Acordaram com o som dos sinos e dos cânticos. Estava frio. Aquela gente movimentava-se para todo o lado.
Começaram as cerimónias e depois da missa realizaram a procissão do adeus. Todos agitavam no ar os lenços brancos e de outras cores.
Viam-se lágrimas nos olhos de muitas pessoas.
- Oh Fátima adeus, Virgem Mãe adeus.
O regresso foi de autocarro.
Tão cedo não farão promessas.
Luiscoelho
2015/Junho
No sopé da encosta da Senhora da Encarnação, mesmo junto às ruínas da antiga praça de touros, sentaram-se à sombra de uma oliveira. Descansaram as pernas e comeram alguma coisa. A mãe dizia:
- Temos de aliviar o cesto. Isto pesa. Agora já vai mais leve.
- Vamos embora que a viajem é grande. Disse o pai.
Caminhavam acompanhando outros peregrinos que faziam aquele percurso. Alguns quilómetros mais adiante começaram as ladeiras da encosta da Serra. As pernas cansadas doíam.
- Ainda falta muito? Perguntou o rapazito...
- Estamos a chegar ao Soutocico. Deve ser metade do percurso, respondeu-lhe o pai.
- As minhas pernas doem tanto, reclamava o miúdo.
As subidas eram cada vez mais duras, o cansaço tomava-lhe as forças.
- Pois, mas temos de continuar. Agora não temos escolha.
Seguia no grupo uma família conhecida que levava um burro carregado e uma menina montada.
O pai na sua imaginação, disse-lhe:
- Agarra-te à albarda do burro. Ele puxa-te!
Entre queixas e muitas lamurias lá foram subindo a serra e descobrindo nomes de localidades diferentes. Curvachia, Arrabal, Freichial, Lagoa, Chainça, Santa Catarina da Serra.
Já perto do Santuário a mãe disse-lhes:
- Já se vê a torre da Basílica. Estamos perto.
Os olhos dos garotos abriram-se ainda mais de tanto cansaço.
Chegaram ao Santuário bem depois da meia tarde.
Era uma praça enorme, encimada com uma igreja muito grande e diferente de todas as que conheciam.
No centro havia a Capelinha das Aparições. Era uma construção pobre. Um simples telheiro onde se amontoavam muitas muletas e também coisas de cera que os peregrinos ali iam deixando. Foram estas imagens que sempre guardou. Os peregrinos ali à volta iam rezando e cantando e outras vezes estavam apenas em silêncio.
Procuraram um canto na escadaria da Basílica, de modo a protegerem-se do frio do norte durante a noite e também de onde podiam ver todas as cerimónias.
Estenderam os cobertores e os meninos deitaram-se.
O som dos cânticos e do órgão não eram maiores que o sono que os adormeceu.
O pior foi quando uns senhores que traziam umas correias por cima dos casacos os mandaram sair dali.
- Não podem pernoitar aqui. Têm de sair já. Vai começar a procissão das velas e ninguém pode estar nas escadarias da Basílica.
O pai pegou na trouxa e a mãe no farnel. Não sei onde passaram a noite, mas sei que a cama foi no chão e o agasalho foram os cobertores.
Acordaram com o som dos sinos e dos cânticos. Estava frio. Aquela gente movimentava-se para todo o lado.
Começaram as cerimónias e depois da missa realizaram a procissão do adeus. Todos agitavam no ar os lenços brancos e de outras cores.
Viam-se lágrimas nos olhos de muitas pessoas.
- Oh Fátima adeus, Virgem Mãe adeus.
O regresso foi de autocarro.
Tão cedo não farão promessas.
Luiscoelho
2015/Junho
Sem comentários:
Enviar um comentário