sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A barba do avô

Imagem intitulada Shave with a Straight Razor Step 18
(foto google)


Aquietou-se na soleira da porta. Cruzou as pernas e meteu as mãos por baixo da camisola grossa. Parecia guardar ao colo um bebé que protegia carinhosamente, mas era assim que conservava as suas mãos quentes e até ele próprio se sentia mais confortável.

Olhava para o lado poente numa postura estática. Parecia viajar num sonho ou outra aventura que nos era vedada. Quando chegámos fizemos silêncio. Pensámos que estivesse a dormir e não quisemos perturbar-lhe o descanso.

Mas o avô quando fechava os olhos continuava a trabalhar. Disse-nos um dia que muitos dos seus trabalhos foram feitos enquanto dormia. Chegava a vê-los feitos.
Assim construiu as suas próprias ferramentas usando apenas os materiais que tinha disponíveis.

Construiu um esmoril (instrumento para desgastar ou afiar objectos de corte). Uma broca (instrumento para furar madeira ou mesmo chapa)
Uma espingarda e tantas outras coisas que lhe ocuparam os dias e aqueles tempos livres da vida no campo. 

Na cabeça tinha um boné amarelecido e um pouco desfiado. A pala dobrada protegia-lhe o olhar. Era necessário chegar perto dele para descobrir o azul suave dos seus olhos. 
O rosto tinha algo misterioso. Os pêlos da barba pareciam agulhas espetadas simetricamente. Só se barbeava uma vez por semana. 

Era um ritual que pude observar algumas vezes. Sozinho, diante de um espelho, fazia tudo com muita paciência e a arte de se barbear sem se magoar.
A navalha dobrava-se em L e cortava como uma lanceta. Poderia mesmo ser um perigo para qualquer um de nós.

Afiava a navalha numa pedra incrustada numa régua de madeira e depois amaciava o fio numa outra régua de um material fibroso. Seguidamente fazia espuma num copo velho, usando restos de sabão, e depois, com um pincel, espalhava tudo sobre o rosto, ficando coberto de uma pasta branca. Parecia  uma máscara.
Finalmente pegava na navalha e dobrando-a em L com a lâmina para a frente e começava o corte. 

A sua sensibilidade ajudava na pressão da navalha sobre a pele e em pequenos lanços começava a rapar a barba e o sabão que ia depositando em pequenas quantidades numa folha de jornal. Fez de um lado e depois do outro sem pressa, mas com o seu jeito de querer parecer bem. Acertou as patilhas e deixou-as com um corte igual de ambos os lados.
Para terminar deu um retoque no seu bigode. 
Nunca precisou de comprar lâminas de barbear pois o seu material era sempre limpo e aguardado num estojo.

Depois de lavar a cara e de se enxugar numa toalha dava gosto olhar para ele. Parecia um homem mais novo e mais sorridente.
O Avô era um homem bonito.
Luíscoelho
Janeiro/2016                                                                                           


quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Novo ano


O Bebé deixou de gritar.
Não quer incomodar os familiares,
Nem os amigos ou os vizinhos. 
Acordou pensamentos de solidariedade.
Os gritos ouvem-se menos que o silêncio. 
Neste olhar nasciam perguntas,
Formavam-se oceanos de esperança. 
Haveria de crescer e amar com regras matemáticas.
É preciso caminhar, escolher os dias e amar sem tempo.
O tempo cria, o tempo ensina e também perdoa.
As perguntas só fazem sentido se tiverem amor.
Vestiu-se sem pressa e bebeu a paz do silêncio.
Equilibrou-se no olhar o mundo e esta forma de pensar.
Finalmente decidiu caminhar devagar seguramente
E amar. Amar sem pressa, sem a pressa do tempo.
Viver é uma escola continuamente presente
Luíscelho
Janeiro 2016

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Já nasceu.


O Blogue  - lidacoelho, chegou ao fim. 
Tudo aconteceu no final do ano de 2015. Não sei as razões. 
Depois de ter publicado - Prenda de Natal, surgiu uma administradora não convidada, que teimosamente queria fazer parte de todas as minhas contas do google - blogue e gmail.
Por mais vezes que fizesse delete, ela voltava sempre na abertura seguinte.

Pedi ajuda e fiquei mal servido. Alterando a conta de hotmail para gmail, fiquei sem acesso ao meu lidacoelho. Apenas podia ler e comentar outros comentários.
Não podia escrever novos textos nem ainda ver os inúmeros blogues de que sou seguidor - Painel. 

Esta noite dormi e acordei com mais esta preocupação. 
Todas as buscas feitas foram infrutíferas.
Pensei num novo blogue.
Devagar ele foi nascendo. Chama-se: Madrugadas.
Para  o deixar mais confortável, vesti-lhe as roupas de 2015.
Do outro lado, em lidacoelho, ficaram os mesmos textos e todos os comentários.

Convido-vos a visitarem este novo espaço. 
Irei manter as publicações duas ou três vezes por mês, de modo que as visitas se sintam bem e sem me tornar cansativo, repetitivo.

Por último resta-me desejar a todos um Bom Ano - 2016.
Saúde, Paz e Amor
Luís Coelho  

http://zitorodriguescoelho.blogspot.pt/

Frio

 Banco de Imagem - gelado, e, sozinha. Fotosearch - Busca de Fotografias, Fotografia Poster, Imagens e Fotos Clip Art
(foto google)

Hoje o frio era mais frio. 
Já ninguém se lembrava de um dia assim. Era um frio de cortar. Gelava-nos por fora e por dentro e a noite prometia ser ainda mais dura.
As bátegas de chuva batiam descompassadas no telhado da casa. Às vezes o granizo tornava os batimentos mais graves e acelerados.

Tinha anoitecido mais cedo. As nuvens escuras cercaram tudo por ali à volta. Não se via ninguém nos campos. Era um mundo de silêncio.
Embrulhados numa serapilheira grossa foram acomodando todos os animais domésticos. Parecia que também estes procuravam um abrigo mais seguro, deixando transparecer o medo que os possuía.

Finalmente o pai entrou em casa. A sua presença dava-nos mais segurança. Trazia um molho de cavacas secas e um brilho de coragem e determinação no olhar. Tinha acabado o seu dia de trabalho. 
Pousou as cavacas num canto perto da lareira e depois foi tirar aquela serapilheira que lhe servia de capa. Sacudiu-a e pendurou-a num cabido que estava no alpendre à entrada da cozinha.  Finalmente sentou-se ao pé de nós.

Sem pedir licença fomo-nos encostando a ele. Estava gelado. Não nos afastou, mas abriu aquelas mãos grandes e voltando as palmas para a fogueira disse: 
- Ah...Que bom!Aqui estamos melhor.
Até parecia que estava com vontade de meter as mãos dentro das chamas. O cheiro das suas roupas ainda carregadas de chuva vieram ao nosso encontro quando o apertamos.
Depois procuramos um lugar nas suas penas e sentámo-nos um em cada joelho. Ele protegia-nos do calor com aqueles braços fortes que nos seguravam com carinho.

A mãe cuidava da ceia, mas os seus olhos estavam em nós. A frente da lareira estava livre para ela poder ver a panela da sopa.
Não sei o que comemos nessa noite. Muitos dias eram as sobras do almoço. 
Ao meio-dia, era servido um prato de sopa grossa. Nunca havia segundo prato, mas havia o "conduto" que era um pedaço de toucinho cozido com a sopa.
 Não éramos ricos, nem se podia desperdiçar nada.
Algumas vezes, a mãe juntava um copo de água nas sobras do almoço e depois, quando a panela começava a ferver, juntava um punhado de massa grossa e temperava com azeite e uma pitada de sal. 

No serão de hoje o pai, para nos distrair, perguntou:
- Vocês sabem quem é mais forte: O Sol ou o Vento?
Eles fizeram entre si uma aposta.
Quem seria capaz de tirar o casaco a um homem que caminhava na estrada.
Depois em silêncio olhou para nós e deixou-nos responder.
Afirmámos que era o vento. Aquela força que abana  as árvores ou que faz mover as velas de um moinho era o mais forte e respondemos convencidos da nossa verdade. Era o vento.
Logo aquelas cabecitas, encheram-se de respostas.
Era o vento! Era o vento! Só pode ser o vento que arranca as grandes árvores e que faz andar as nuvens...
Mas nós queríamos a resposta do pai. Tudo quanto ele nos dissesse  era o mais verdadeiro. O pai disse e pronto! Não há mais dúvidas.

Um sorriso calmo desenhava-se nos seus olhos o que  fazia aumentar as nossas dúvidas. 
- Será o Sol pai? Perguntou o mais velho.
Naquele momento e conservando aquele brilho no olhar contou-nos a história de um caminhante.
- Seguia pela estrada um homem, com o casaco vestido.
Estava muito vento. Pensei que a força do vento lhe arrancasse o casaco, mas quanto mais vento fazia mais ele apertava o casaco.
Durante algum tempo segurou o casaco com as duas mãos chegando quase a desequilibrar-se.
O vento não conseguiu vencê-lo.

Depois, num outro dia, o mesmo homem caminhava pela mesma estrada, mas estava muito sol.  O dia foi aquecendo e o calor do Sol obrigou-o a despir o casaco. O sol venceu.Tem mais força que o vento.

Oh! Mas assim não vale...O homem é que quis tirar o casaco...disse o mais pequenito.
Reparem que isto da Natureza não é bem assim. Um não é mais forte  que o outro. São apenas diferentes.  O Sol, o vento, a chuva ou a água são precisos para podermos viver com harmonia.
Cada coisa tem a sua importância e sem eles não poderíamos viver.  

A ceia estava na mesa.
Sentaram-se e comeram em silêncio.
Agora as colheres andavam mais lentas e já era com algum esforço que iam bebendo aquele caldo. O sono tornava-se cada vez mais atrevido.
Então a mãe pegou-lhes ao colo e deitou-os nas suas caminhas.
O dia foi grande nas suas corridas.  Brincadeiras que os ajudavam a crescer.
Luíscoelho
Janeiro/2015

Semear amor


Fotografia

Semeei-te de esperanças 
Neste amanhecer de palavras.
Recordações de amantes, 
De cores perdidas, errantes,
Que por querer já são escravas
Rejeitando outras alianças.

E até no entardecer dos dias 
Fomos semeando sonhos no olhar:
Searas simples de dor e penas,
Dias felizes de cores amenas.
Caminhadas que fizemos para chegar
Onde germinam tantas alegrias.

Campos semeados de ternura,
Espaços de alegria e de tristeza,
Conquistas que nos encheram de brio
Num tempo de amar ao desafio.
Sementes de amor e de beleza
Fizeram novos dias, nova cultura.
luíscoelho

Janeiro/2015

A menina Maria




(Noras no Moinho de Papel -Leiria)

Em Novembro de 2011 publiquei a história da Maria aqui no blogue. Recriei as magras lembranças que me sobraram e outras que eram do conhecimento público.
Esta semana tive conhecimento de mais abusos que lhe vão amargurando os dias. Agora com 82 anos sobram-lhe as doenças, o frio e o desprezo dos que deviam dar-lhe a mão.

Alguns dias, sem ter nada na mesa para se alimentar, vem para a rua e caminha sorrindo para todos. Na sua alma carrega a esperança de que alguém a irá ajudar.
- Será que alguém me vai oferecer um prato de sopa? Até mesmo um caldo de água quente?

Ontem dividiu a última fatia de pão em duas. O pão estava ressequido de tanto o guardar, mas os seus olhos brilharam de esperança pois cada parte seria um esconder da sua fome.
Hoje era dia de festa. Havia pão para o almoço. 
Depois será o que Deus quiser.
Juntou as duas mãos de silêncio. Orou e agradeceu.

Nem sabe quanto tempo ficou ali parada em frente daquele pedacinho de pão. Foram tantos os pensamentos que a assaltaram bruscamente e outras memórias que, sem querer, a fizeram reviver datas anteriores. Foram dias de mesa farta com pão para todos. Até os cães tinham direito a um caldo quente.
  
 
Hoje sobra-lhe um caneco com água da fonte. Santo Amaro alimenta-me com esta água que corre graciosamente na bica, ali à beira da estrada. Lá todos podem beber sem pagar, sem pedir por favor. A fonte é pública.

- Ai, meu Senhor e meu Deus! Ao que nós chegamos...Diz tentando aceitar toda a dor e tristeza.
À noite esconde-se como pode numa enxerga onde até os cobertores lhe cheiram ao bolor de uma sociedade falsa, hipócrita e injusta.
- Meu Deus se tanto pequei peço-Te perdão. Ajuda-me e dá-me forças para continuar a resistir.

Na sua humildade abdicou do usufruto daquela casa que foi depois vendida em hasta pública. 
Agora os novos proprietários querem forçá-la a sair de lá. Primeiro pediram-lhe aumento da renda. Depois entraram e roubaram-lhe as suas coisas. Levaram o que quiseram e espalharam o que sobrou pelo chão .

Recentemente cortaram-lhe os canos da garrafa de gaz de modo que o mesmo se espalhasse pelo interior da habitação.
Ao aproximar-se e sentindo o cheiro foi pedir socorro aos vizinhos que desligaram a garrafa e depois o quadro eléctrico.

O medo começa a tomar conta de todos os seus movimentos.
- Não tenho para onde ir. Não tenho família. Não tenho dinheiro.
A Maria desconhecia por completo o drama dos seus dias.
Prometeram deixá-la viver ali no seu canto, mas logo depois começaram as exigências.
Primeiro uma renda, depois um aumento para o dobro.

Finalmente são as ameaças.
- Tens de sair daqui. A bem ou a mal vais ter de sair. 
Agora são estes os sons que constantemente ouve dentro de si. 
Caminha e vai sorrindo.
Em silêncio suplica a Deus por misericórdia porque dos homens já nada espera, embruteceram no ódio, no desprezo e indiferença...
- Que será de mim?
Luícoelho
Janeiro/2015

Primeira Parte 

Menina e moça a trouxeram da sua aldeia, da sua casa e da sua família. Prometeram-lhe um mundo de felicidade e bem estar. 
Era uma moça vistosa, bonita e simpática.
O patrão, era um homem rico. Viúvo há bastantes anos, desde o nascimento da sua filha. 
A Maria cedo se viu dona de uma casa que não era a sua. Sozinha tinha de dar conta da cozinha, dos quartos e das roupas. Era muito trabalho.

O patrão era dono de uma das casas mais ricas desta região. Era uma casa agrícola mas tinha também uma parte comercial. Revenda e comércio de adubos, roupas e mercearia.
Havia trabalhadores fixos e outros que eram assalariados ao dia ou à semana. Trabalhadores a seco. Não tinham direito às refeições.

Cedo a Maria viu as manhas e artimanhas do patrão. Estava sempre a exigir mais trabalho sem recompensa nem pagamento.
Nesta casa não havia horários para os empregados terem os seus dias de folga ou as horas para descanso. Tinham de estar sempre disponíveis para todo o serviço e com boa cara.

Cedo a Maria conheceu a violência do seu amo que a forçava e a violava a seu belo prazer sempre que lhe apetecia.
Ela era franzina e não conseguia fazer-lhe frente e ele era manhoso e mau. Depois de a trancar num quarto obrigava-a a todas as sevícias de que era capaz. 
No fim exigia silêncio absoluto

A Maria vivia assustada pelos abusos diários e pelas dores que lhe causava, mas deixou-se vencer pelo medo. 
Se falasse ninguém iria acreditar nas suas palavras. Ele era um empresário rico e muito temido. 

Em troca do silêncio foi-lhe prometendo uma casa. 
- Um dia serás uma senhora e poderás viver a tua vida!...
A Maria viu outras moças serem abusadas pelo patrão e aqui as ameaças foram ainda maiores e mais graves.
- Se abrires a boca mato-te. Ficarás sem nada do que te prometi e ninguém acreditará no que disseres....

Foram longos anos de sofrimento silencioso até ao dia em que o velho morreu. Ela também tinha envelhecido. Estava magra e nem as roupas escondiam o seu corpo gasto. 
Pensava no seu íntimo - Agora, que irá ser de mim...?!
As filhas são herdeiras de tudo. Ele não passou de um mentiroso que se aproveitou de mim.

No testamento apareceu uma doação de "usufruto" de uma casinha em ruínas para a Maria. Por morte dela esta casinha pertenceria aos netos do falecido. 

Depois do funeral do patrão a herdeira mais velha, viúva e sem filhos, mandou a Maria, empregada, para a rua. 
- Tens a tua casa vai para lá... Aqui não ficas...
Esqueceu-se de uma vida de trabalho e dos abusos de que ela foi alvo. Ingratidão!... 
-Vou viver de quê...??? Ninguém me pagou, não me fizeram descontos para a Caixa de Previdência...

- A Senhora sabe dos abusos que o seu pai me fez? Julga-me culpada? Engana-se. 
Fui vítima, sem ninguém para me defender....Não podia falar, nem podia fugir....O mal estava feito e todos os dias eu tinha de suportar as dores e o desgosto sem me conseguir libertar daquelas garras.
- Não quero saber de mais nada, respondeu-lhe a herdeira. Hoje mesmo vais sair daqui. Desenrasca-te!

A Maria mudou-se levando consigo algumas coisas que lhe foram oferecendo. Reparou a habitação. Construiu uma casa de banho, e uma pequena horta.

Um dia vieram os herdeiros desta casa com uns papeis para  ela assinar, conta a Maria.
- São coisas das Finanças, não se preocupe. É uma hipoteca. 
Na sua boa-fé assinou sem ler nem pedir ajuda aos entendidos.
A Maria assinou a sua renuncia de usufruto em favor dos herdeiros.
Passados alguns meses, como os herdeiros não pagaram as dívidas, a casa e o quintal foi vendido em hasta pública.

Agora anda desesperada e nem sabe o que vai ser da sua vida.
- Enganaram-me, abusaram-me e agora despejam-me na rua sem nada... A vida foi madrasta má.
- Que mundo cão....que vida triste...
Não se vêem as lágrimas... percebe-se a sua dor e desilusão.
As cores são de um sangue ainda vivo a manchar-lhe os dias ....
Luíscoelho
Nov/2011

Holocausto




Depois de ver algumas imagens sobre o holocausto em 27/01/2015, o menino assustado pergunta à sua mãe:

- Porque os homens matam outros homens?
- Será que já não cabem todos nesta liberdade de viver?
Ou este mundo tornou-se pequeno demais para eles?

Deus deve estar triste com estes que se julgam donos dos outros homens e que os maltratam. Que lhes roubam o direito à vida.
Porque será que Deus permite estas barbaridades?
Se fossem os pequenos eu entendia a sua fome por um pedaço de pão, mas são os grandes que mandam executar. São eles que levam os sorrisos  e os sonhos de tantos meninos.

Da África sopram ventos de gemidos. São povos espoliados, oprimidos, agredidos e perseguidos...E dizem depois que tudo foi por ordem de Alla... Que confusão... Nem Deus nem Alla mandam matar.

Os assassinos escondem-se de rosto tapado com armas nas mãos porque todos os seus actos não têm razão nem eles possuem um bom coração.
Luíscoelho
Janeiro/2015

Procuro Deus




Procuro Deus, o meu Senhor,
Rei do tempo e do Universo.
Procuro-O no sopro do vento,
No sibilar destes versos.
Procuro-O no tempo de paz,
Na distância do pensamento,
E quando se fala de amor.
Procuro-O no silêncio dos gritos.
Na injustiça, fome e desamor.

Foi no olhar das crianças
Que aprendi a escutar-Te
Foi na sua simplicidade
Que aprendi a amar-Te.
Foi no luar das noites frias
Que me ensinaste a sonhar
E nas horas mais tardias
Que me ensinaste a perdoar.
Foi no silêncio dos mais velhos
Que aprendi o bom viver.
Foi nos seus gestos banais 
Que descobri o Teu Ser.
Luíscoelho
Fev/2015

Domingo à Tarde - 1ªparte







Foto google

Já era mais de meia tarde e hoje ainda não tínhamos saído de casa. O dia estava frio embora não estivesse a chover. 
Aos Domingos à tarde gostamos de dar uma volta. Costumamos dizer: Vamos arejar as ideias.
Gostamos de ir até São Pedro de Moel ver o mar.
Aquele mar imenso que nos enche de maresia e de sonho.

Estacionamos o carro e começamos uma caminhada.
Entre o Mar e a Estrada Atlântica, existe uma ciclovia e ainda um passeio reservado aos peões. Seguimos por aí, respirando a maresia que sobe pelas rochas e nos enche os pulmões. O azul das águas dá-nos as asas da liberdade.
Esquecemos o tempo e as preocupações e vamos namorando como se tivéssemos regressado a 1980, quando nos conhecemos.

Nestes dias apetece-me parar o tempo.
Gostaria de transportar aquela magia que o mar nos oferece e conservá-la viva até uma próxima visita.
O tempo não pára e o Farol no horizonte avisa-nos que está na hora do regresso.  Muitos dias voltamos acelerando o passo. 
Esquecemo-nos de nós e dos nossos afazeres. Uma coisa parecida como quando adormecemos e perdemos a noção das horas. 

Outros Domingos ficamos mais perto de casa.
Vivemos num tempo difícil. Temos de economizar. 
Nestas tardes, ficamos pela cidade e fazemos a nossa caminhada à beira rio. Não somos únicos. Muitas pessoas fazem o mesmo percurso. Alguns caminham com os carrinhos de bebé ou com os cães presos com um açaime. Outros guardam os seus pequeninos que guiam orgulhosamente as "Bikes" coloridas.
Nas tardes de Maio até Setembro, quando os dias são maiores, encontramos por ali  muitas pessoas nossas conhecidas que como nós descobriram o valor de caminhar e os benefícios que nos trás para a saúde.

À beira rio tem bancos para quem quer descansar ou simplesmente ver a paisagem.
Existem ainda aparelhos para melhorar a parte física dos que procuram  mais do que uma simples corrida ou caminhada. 
Aparelhos onde se podem fazer exercícios de musculação e outros de braços ou de pernas. 

A tarde hoje foi assim. Na próxima contar-vos-ei um assalto de que fomos vítimas no parque do Lidil, mas por sorte, saímos ilesos.

Domingo à Tarde - 2ª parte

Hoje não fomos fazer nenhum passeio. Decidimos ir às compras. Precisamos de reabastecer o frigorífico para a semana. Os almoços, as merendas e o jantar têm de ficar programados.

Começámos pelo Banco. Depois de actualizar a caderneta e ver o saldo, levantámos o indispensável para as necessidades de cada dia.
De seguida fomos comprar charcutaria, peixe e alguma fruta. Não nos importa a quantidade, mas a qualidade daquilo que compramos. Menos e melhor.
Também já fomos enganados.
Comprámos leite mais barato – promoção, que depois ninguém conseguiu beber. Azedava simplesmente.
Hoje tivemos necessidade de levar o saco. Já lançaram mais uma tacha sobre os sacos de plástico. Não sabemos para quê e nem porquê. Uma tacha que não tem cabimento nos nossos magros vencimentos.
Os políticos em vez de baixarem as suas mordomias, vencimentos e regalias vão lançando tachas e impostos que nos sobrecarregam a todos.
Já nos prevenimos. Agora andamos com sacos no carro e com uma moeda para os carrinhos do exterior. Depois do pagamento é mais fácil transportar tudo e arrumar as coisas como gostamos.
Nada se faz sem trabalho, mas juntemos a tudo boa disposição e espírito de organização.

A minha mulher sugeriu:
- Passemos pelo Lidil para ver se existem promoções. Já lá encontrámos diversas coisas para o lar e a preços compensadores.
- Calha em caminho. Respondi. Vamos até lá.
Depois de dar uma volta pelos corredores centrais, verificamos que não havia nada do que procurávamos.
Comprámos apenas dois chocolates. Quando passamos eles riem-se para nós e lá nas prateleiras, chamam baixinho:
- Leva-me! Estou em conta!...
Ui, aqueles com avelãs cegam-me. Nem sempre lhes resisto, mas também nem sempre os ouço chamar naquela melodia de encantamento.
Muitos dias entro surdo, cego e mudo.
Apenas vejo o que procuro e desapareço muito rapidamente, não vá o diabo tentar-me com aquilo que não preciso…

Estávamos no parque, junto do carro e com as portas abertas, quando se aproximou Skoda branco. Buzinou e dirigindo-se a mim, perguntou se estava tudo bem.
Depois saiu do carro e  veio estender-me a mão, num cumprimento um pouco estranho.
- Não se lembra de mim? Fui levar muitas cartinhas a sua casa. Eu trabalhei nos CTT.
- Não, respondi. Não conheço não.
 - Sabe eu tinha bigode. Agora estou diferente. Imediatamente pergunta:
- Posso cumprimentar a sua esposa?
Nem esperou pela resposta. Meteu-se à conversa com a minha mulher que já estava sentada dentro do carro, mas ainda com a porta aberta. A minha mulher confirmou que também não o conhecia.
- Olhe, continuou, agora sou chefe de vendas na Vorten. Se precisarem de alguma coisa procurem-me. Vou estacionar o meu carro e trazer-vos um cartãozinho.

Assim que ele virou costas, eu sentei-me ao volante e  saí dali acelerando o que podia. Depois fui vendo, pelo retrovisor, se estava a ser seguido…
A minha mulher dizia:
- Grande filho da mãe. Estafermo! Aquilo era um assalto. Ele deve-nos ter seguido desde o Banco. Não atacou antes para não criar desconfiança…

Em casa, contámos a história e todos confirmaram as nossas suspeições. Eles andam por aí. Atacam onde podem. As pessoas não desconfiam e depois é tarde demais.
Deveria haver ainda outros cúmplices na retaguarda deste fulano, mas não tive mais tempo para verificar. Era urgente sair dali.
Desta vez livrei-me de muitos problemas e aborrecimentos…
Sorte? Simplicidade?!...
Não sei mesmo, mas nesta tarde o meu Anjo da Guarda, estava perto e foi meu protector.
Luíscoelho
Março/2015 

Despertar


Foto minha- a anterior não sei porque desapareceu.

Despertar

Vim devagarinho para não te acordar.
Quis ver-te, olhar-te sem te incomodar
Os teus olhos meigos deixaram-me sonhar.
Foi o teu silêncio que me veio despertar
Esta força de amor que me faz caminhar.

Há caminhos diferentes em cada pessoa
São momentos nossos que Deus nos doa,
Sonhos que nascem num tempo que voa,
Amantes e amor jamais nos magoa
Em jardins proibidos, floridos à toa.

Meus olhos cansados, fechados não vão,
Transportam a luz que nos dá razão,
Semearam amor e carinho no teu coração.
E agora peço ao Bom Deus protecção:
- Que te guie e guarde.
Luíscoelho
Março/2015

Que Deus abençoe todas as mulheres

Viagem a Viseu - Março/2015



(ruínas)

No sábado ao anoitecer falámos de assuntos pendentes da quinta de Viseu. Era necessário ir ver como estão as coisas e resolver alguns assuntos pendentes.
No Domingo saímos de Leiria cerca das 10 horas. Desta vez seguimos pela A17 até à região da Figueira da Foz e depois tomámos a A14 até à saída Norte de Coimbra. Finalmente seguímos pelo IP3 até Viseu.

Este último é famoso pelos numerosos acidentes rodoviários.
O tráfego é bastante intenso e muitos condutores não respeitam as regras de transito nem o civismo com os outros condutores.
A viagem de ida foi bastante calma. Não havia movimento. 
Na A 17, numa distância de 50 km, contei cerca de nove viaturas que me ultrapassaram. Seguíamos numa média de 100 km/hora. No sentido oposto, do outro lado da autoestrada,  havia  mais movimento.

O Sol radiante iluminava a paisagem  e fazia sobressair o colorido das acácias que bordavam todo o trajecto. O tom amarelo dourado contrastava com o verde dos ramos e dos outros arbustos mais pequenos e mais baixos.
De quando em quando algumas aves maiores pousavam na berma da estrada. Não havia movimento bastante para as assustar ou talvez elas se tenham habituado a viver por por ali em comunhão com a natureza e o trânsito automóvel. 

Penso tratar-se de corvos ou outras aves de rapina que por ali vão encontrando alimentos. Existem répteis que se aventuram numa travessia das faixas de rodagem e acabam esmagados pelas rodas dos carros. Muitas vezes pequenas aves seguindo insectos em voos rasantes, esbarram-se  nos vidros ou na parte lateral dos automóveis.
No final de uma viagem a nossa viatura agradece um banho. Uma lavagem completa para apagar as marcas deixadas pelos mosquitos ou mesmo os dejectos das aves que nos acertam em cheio.

O regresso também foi calmo, mas com muito mais movimento. Chegámos a casa ao anoitecer. 
Muitas pessoas foram passar o fim de semana ao interior.
Depois fazem o retorno aos seus locais de estudo ou de trabalho no Domingo à tarde. 
Ontem já não foi possível fazer a lavagem, mas hoje vou deixar o meu popó  a brilhar. Ele merece. Teve um comportamento exemplar.
Deu-me muitas alegrias nesta viagem. Em subidas e em zonas de 2ª faixa portou-se lindamente deixando outros mais novos e potentes para trás numa boa distância.

Almoçamos em casa de familiares que nos receberam com muita alegria e no final ainda nos carregaram o carro com batatas e muita verdura fresca. Grelos e couves colhidas naquele momento.
Já não fazíamos esta viagem desde a morte da Sra Carminda. Faz este mês um ano. Fomos ao Cemitério onde colocamos um ramos de orquídeas  e fizemos uma pequena Oração.
- Senhor Deus todo poderoso, depois de uma vida de luta e de sofrimento, dai-lhe o descanso eterno na Vossa Luz e no Vosso Amor. Ela que acreditou merece o prémio da Salvação. 

A noite foi silenciosa e acolhedora.
Hoje revi estes apontamentos em memória e resolvi partilhá-los convosco. Espero que me desculpem a ousadia e a simplicidade.
Desejo a todos uma boa semana.
Luíscoelho
Março/2015

Pai e Mãe





Pai

Desenhei o silêncio do teu rosto
Palavras nunca ditas nos teus olhos
Tempo que juntos construímos  
Dias férteis de ledos desenganos
Grandes sonhos de que nunca desistimos.

Desenhei o silêncio do teu rosto
Sorrisos tracejados pelos anos
Estradas longas por onde caminhamos
Nervuras onde o tempo já fez danos
Distâncias onde sempre nos ligamos.

Desenhei o silêncio do teu rosto
Nas palavras escritas no meu ser
Aquelas que guardo e dou valor
Ser Pai é um ser grande com amor
E vivendo se transforma em criador.
Luíscoelho
2014/março/19

=Reeditado= Estas fotos datam de 1940 aproximadamente.
Lá no Céu onde se encontram que Deus os guarde.

Filho



(actividade escuteiros )

Filho é parte de mim
É vida que corre
É seiva e sangue sem fim.
Filho é amor
Que se cria com dor
E alimentamos com muito calor.
Filho é nuvem pesada
Como chuva amassada
E sem rota marcada.
Filho é um sonho criado
Vem num gesto amado.
Filho é partida,
Lágrima perdida
E em silencio vivida.
Mas filho é filho
Sem nó nem empecilho
Que nos ensina a viver
A dar, perdoar, esquecer.

25/Março/2015
luíscoelho   

ventos da noite




Nestas madrugadas vou acordando aqui e ali 
Buscando amor, uma flor um sorriso...
Tantas coisas que nunca disse nem digo...
Partes de mim cortadas pelo vento que sopra em silêncio e deixa-me assim...

luiscoelho
Abril/2015